sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ensinamentos, pregações e curas de Jesus

Alexandre Luiz de Paula

Sumário


1.      Introdução........................................................................ 3
2.      Texto: (Mateus 4.23-25)................................................. 3
3.      Perícope........................................................................... 3
4.      Comparativo com o Evangelho de Marcos e Lucas...   4
5.      Interpretação do Texto...................................................5
6.      Geografia Bíblica............................................................6
- A divisão da Palestina Judaica....................................7
7.      Conclusão........................................................................8
8.      Referências Bibliográficas.............................................. 9
 
 
1.      Introdução
Nesta análise exegética da perícope de Mateus 4.23-25, pretendo entender a verdadeira intenção do autor, ao descrever uma passagem que mais parece nos mostrar o resumo da atuação de Jesus nas regiões por onde Ele andou, ensinando, pregando e curando enfermos, mas que está “propositalmente” inserido no inicio das narrações mateanas, onde Jesus começa seu ministério na Galiléia, logo após a convocação dos seus primeiros discípulos (4.18-22).
     
2.      Texto: (Mateus 4.23-25)

23 E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
24 E a sua fama correu por toda a Síria; e traziam-lhe todos os que padeciam acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curava.
25 E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e dalém do Jordão. (ARC) [1]

Consultei o texto em 04 versões (NVI, TEB, NT Interlinear e ARC), não descrevi o texto em outra versão, pois não há diferenças significativas.

3.      Perícope
Temos um texto como parte introdutória aos capítulos seguintes (5-9), nos versículos anteriores (4.18-22), Jesus inicia o chamamento dos primeiros discípulos, por isso nossa perícope esta delimitada em 4.23-25.
Exegeticamente, vemos que não basta analisar uma “perícope”, que é um recorte textual, uma unidade delimitável como [...........].O projeto maior que chamamos de evangelho é composto pela costura de perícopes que tiveram origens distintas, e na união das perícopes, o lugar dado a cada uma desempenha um papel para o autor.[2]
Por isso vamos comparar o texto com outras passagens semelhantes e tentar decifrar suas intenções.

4.      Comparativo com o Evangelho de Marcos e Lucas

Não encontramos no evangelho de Marcos este texto no formato redigido por Mateus, um “sumario sintético” [3], encontramos partes do texto como: Jesus ensinando nas sinagogas (Marcos 1.21,39), que também está antes da eleição dos primeiros apóstolos e outra passagem que parece ser mais próxima do nosso texto é Marcos 3.7-10:

    7 E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão da Galiléia, e da Judéia,
8  e de Jerusalém, e da Iduméia, e {dalém} do Jordão, e de perto de Tiro, e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes {coisas} fazia, vinha ter com ele.
9 E ele disse aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, por causa da multidão, para que o não comprimisse,
 10 porque tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham {algum} mal {ou flagelo} se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem. (ARC)[4]
           
Uma diferença que podemos apontar neste texto de Marcos é a citação das cidades Iduméia, Tiro e Sidom, já no texto de Mateus a cidade citada é a Síria. Provavelmente existiam algumas pessoas desta região no grupo de Mateus, por isso ele muda a citação da região, uma forma de expressar também que o ministério de Jesus se espalhou por todas as regiões, judias (Galiléia, Judéia, Samaria), como também gentílicas (Decápolis, Síria, Peréia que esta descrita no texto como “dalém do Jordão”).
Já no evangelho de Lucas, encontramos uma passagem similar em 6.17-19, e se olharmos de uma forma mais abrangente, os textos de Mateus e Lucas neste ponto tem certas semelhanças, pois a passagem que antecede ambos é a eleição dos apóstolos (Mateus 4.18-22 / Lucas 6.12-16), e a passagem que vem logo após os mesmos é o sermão da montanha, com uma diferença que no evangelho de Lucas existem apenas 4 “Bem Aventuranças”, já em Mateus temos 8.
O que podemos concluir nestas comparações é que, esta é uma mensagem que todos deveriam seguir, logo após serem convocados, deveriam ir todas as regiões, pregando o evangelho do Reino, curando os enfermos e expulsando os demônios, uma missão para todos os que estavam inseridos neste no grupo mateano.

5.       Interpretação do Texto

Mateus 4.23-25 compõe um este sumario sintético antes de referir detalhes dos ensinamentos e curas de Jesus nos capítulos 5-9, ou seja, faz uma síntese de tudo o que ele iria propor nos capítulos seguintes, ele propõem um quadro geral que particulariza depois com exemplos concretos. O versículo 23, quase se repete literalmente em (9.35), Mateus estabelece assim uma clara inclusão dos capítulos (5-9)  [5].
Uma introdução ao ministério de Jesus, mostrando-nos o grande propósito não só do Messias, mas de todos os que foram convocados para serem “seus seguidores”, de pregar o evangelho do Reino, socorrer os mais necessitados, pobres oprimidos, enfermos e a grande maioria endemoninhados, porque a possessão demoníaca era considerada a causa de varias outras aflições como vemos em (9.33; 17.15; Marcos 9.25; Lc 13.10-12,16) [6]
Jesus faz uso pleno de sua oportunidade de ensinar na sinagoga[7], como podemos confirmar também em (13.53-58). Jesus se caracteriza como um Messias itinerante, as sinagogas dos judeus são o palco privilegiado de sua pregação, pois aí se reúnem as pessoas para escutar a leitura da Palavra de Deus, também faz gestos poderosos, curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. Jesus se apresenta, neste momento inicial, como o Messias por palavras (cap. 5-7) e por obras (cap. 8-9). Esta expressão acentuada “suas sinagogas”, mostra-nos que a comunidade mateana possuía sua própria sinagoga, e que eles mesmos não comungavam com a mentalidade dos fariseus.[8]
Com a clara intenção de confirmar que Jesus, era o messias tão esperado, Mateus relata a atuação de Jesus e sua fama não só na Galiléia, mas nas cidades onde havia uma minoria de judeus como em Decápolis, Síria e dalém do Jordão. No v. 24 o texto diz que a notícia se espalhou rapidamente, de modo que chegou até a Siria.
É evidente que a palavra “Siria” nesta passagem não pode significar toda a província romana, que até o ano 70 d.C. incluía a Palestina, mas provavelmente a região norte da Galiléia abrangendo Antioquia e Damasco. Muitos judeus haviam se estabelecido nestas cidades do Norte; alguns voluntariamente, outros por movimentos obrigatórios de uma região para a outra. Laços econômicos, sociais e religiosos ligavam os corações dos judeus com seus parentes e amigos na Galiléia e Judéia. Também havia bons caminhos entre as diversas cidades. E vemos que Cafarnaum e Galiléia estavam situadas no caminho que vinha de Damasco. Antioquia e Damasco estavam igualmente conectadas. Existia um caminho costeiro que vinha desde Antioquia, passava por Tiro, Galiléia e Gaza em direção ao Egito.[9]

Jesus é claramente apresentado como o Messias dos desprezados, uma afirmação bem direcionada ao grupo mateano, que provavelmente estavam sendo descriminados por outros grupos de religiosos, pois decidiram serem Judeu-Cristãos Naquele momento eles provavelmente já haviam perdido o acesso à sinagoga local, sofriam preconceito pela adoção de Jesus como Messias e sofriam cada vez mais dificuldades em suas relações profissionais.

6.      Geografia Bíblica[10]

http://www.adotaciliocosta.com.br/imagens/Palestina-tempo-de-Jesus.jpg
No primeiro século, dividida em quatro regiões: Galiléia, Samaria, Judéia e Iduméia, a Palestina era uma província romana subordinada administrativamente ao Legado da Síria, onde ficava o quartel general das tropas de Roma no Oriente Médio.
A Divisão da Palestina Judaica
Galiléia - É a área mais setentrional da Palestina (agora, Estado de Israel) e foi a última a ser incorporada ao Estado Teocrático Judeu. É uma região fértil, composta de vales e pequenos montes, tendo ao norte uma cadeia de montanhas. Antes da ocupação pela Judéia, sua população era constituída por uma miscigenação de várias etnias. A partir de 100 a.E.C., os judeus foram se fixando na região. Os galileus viviam da agricultura e da criação de gado; os que residiam próximo ao Lago Tiberíades (ou Mar de Genezaré) eram, na maioria, pescadores.
Sofreram forte influência do helenismo, visto que muitos gregos migraram para lá e, naquela região, construíram uma autêntica cidade helênica. Os judeus galileus seguiam o Torá, mas não se julgavam subordinados ao Sinédrio, situado na relativamente distante Jerusalém.
Samaria - Situava-se entre a Galiléia e a Judéia; os samaritanos mantinham-se em constante atrito com seus vizinhos. Só seguiam as leis do Pentateuco de Moisés, ignorando os outros livros do Torá, daí serem considerados impuros pelos outros grupos religiosos. A hostilidade entre os samaritanos e os demais judeus palestinos vinha de longe, desde a separação das Tribos de Israel, quando adotaram uma postura de dissidência teológica.
Judéia - Era a região mais importante por ser Jerusalém o centro do poder do Estado Teocrático. Os judeus da Judéia, controlados diretamente pelo Sinédrio, consideravam teologicamente "impuros" os que viviam nas demais regiões da Palestina.
Iduméia - Região mais meridional da Palestina possuía cidades importantes como Hebron e Massada, habitadas pelos judeus que para lá se haviam deslocado a partir da Judéia. Sem serem ortodoxos, seguiam os princípios básicos do Torá
Mais ao sul, havia um vasto deserto onde viviam, em pequenos grupos dispersos, semitas que nunca se deram conta do judaísmo. Eram nômades que só viriam a entender o sentido de religiosidade quando, mais de seiscentos anos depois do primeiro século, foram congregados pelo grande líder e profeta Maomé, passando a fazer parte de uma nação de árabes muçulmanos, seguidores de uma religião regida pelas leis severas do Corão.
Decápolis - É o nome dado na Bíblia e por escritores antigos a uma região na Palestina que se encontra ao leste e ao sul do Mar da Galiléia. Seu nome é dado devido à confederação das dez cidades que dominaram sua extensão, unidas por certos costumes e por certa população. Localizava-se entre a planície de Esdrelon, dirigindo-se para o vale do Jordão, ocupando o leste deste rio. Era formada pelas cidades de Hipos (na margem oriental do mar da Galiléia), Damasco (ao norte), Canata (no extremo leste), Diom, Gadara, Citópolis (no extremo oeste), Pela, Filadélfia e Gerasa (no extremo sul). Nestas cidades havia uma minoria de judeus.[11]

Peréia (dalém do Jordão) - A Peréia ficava a Leste do Mar Morto, subindo pelo Rio Jordão no sentido Norte, na direção de Péla. Assim como na Judéia, seus habitantes eram, em sua maioria, quase puramente judeus, embora também houvesse a presença de gregos em suas terras. A região ficava “além do jordão”, isto é do lado leste desse rio (Jo 3.26). Esse nome não aparece na Biblia.[12]


7.      Conclusão

O autor do Evangelho de Mateus tem um propósito muito bem determinado ao citar esta passagem, ou seja, uma introdução aos “eventos históricos” da vida de Jesus, demonstrar através dos sinais que Jesus é o Messias tão esperado. Segundo Overman:
As citações de cumprimento não são basicamente, um esclarecimento dos “eventos históricos” da vida de Jesus. Essas citações enfatizam a reivindicação da comunidade de Mateus ás mesmas tradições que o judaísmo formativo estava apresentando e reivindicando como suas. Isso, obviamente, levaria á competição e ao conflito. Embora as tradições e as Escrituras de Israel fossem algo que a comunidade de Mateus e o judaísmo formativo tinham em comum, a afirmação de Mateus de que essas tradições e promessas são cumpridas exclusivamente na pessoa e na ação de Jesus de Nazaré.[13]

Uma espécie de esquema “promessa-cumprimento”, uma prova de que eles são o povo de Deus, que segue o agente de Deus, Jesus. Confirmando que a confiança depositada em Jesus pelo grupo mateano não é errada.
Eles deveriam seguir os mesmo exemplos de Jesus, sendo batizados e após serem convocados deveriam fazer da mesma forma, pregar o evangelho do Reino, curando os enfermos, expulsando os demônios em todas as regiões da Galiléia, Samaria e em todas as regiões da Síria, ou seja, até os confins da terra.

Referências Bibliográficas

HENDRIKSEN, William. Comentario Al Nuevo Testamento: Exposición Del Evangelio según San Mateo. 2850 Kalamazoo Ave. SE: Libros Desafio, 2003.

KASCHEL, Werner. Dicionário da Bíblia de Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

LIMA, Anderson de Oliveira. A mulher que ungiu Jesus - parte II. São Paulo: http://compartilhandonoblog.blogspot.com, 2010.

LUZ, Ulrich. El evangelio segun San Mateo: Mt 1-7, Vol 1.Salamanca: Editora Sigueme, 1993.

Novo testamento Interlinear: grego-português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.

OVERMAN, J. Andrew. O evangelho de Mateus e o Judaísmo formativo: O mundo social da comunidade de Mateus. São Paulo: Loyola, 1997.

TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa: I volume. São Paulo: Louvores do Coração, 3ª Ed. 1987.

VITÓRIO, Jaldemir. Mateus: A Bíblia passo a passo. São Paulo: Loyola, 1996.



[1] Bíblia Sagrada – Edição Almeida Revista e Corrigida, 1995.
[2] LIMA, A mulher que ungiu Jesus - parte II. http://compartilhandonoblog.blogspot.com.
[3] LUZ, El evangelio segun San Mateo, p.243.
[4] Bíblia Sagrada – Edição Almeida Revista e Corrigida, 1995.
[5] LUZ, El evangelio segun San Mateo, p.241.
[6] HENDRIKSEN, Comentario Al Nuevo Testamento: Exposición Del Evangelio según San Mate, p.190.
[7] HENDRIKSEN, Comentario Al Nuevo Testamento: Exposición Del Evangelio según San Mate, p.188.
[8] VITÓRIO, Mateus: A Bíblia passo a passo, p.25.
[9] HENDRIKSEN, Comentario Al Nuevo Testamento: Exposición Del Evangelio según San Mate, p.189.
[10] TOGNINI, Geografia da Terra Santa: I volume, p. 181-204.
[11] LUZ, El evangelio segun San Mateo, p.245.
[12] KASCHEL, Dicionário da Bíblia de Almeida, p. 128.
[13] OVERMAN, O evangelho de Mateus e o Judaísmo formativo: O mundo social da comunidade de Mateus, p.83.

Um comentário:

  1. Como já tinha comentado, fez uma boa pesquisa. Parece que já resumiu um pouco a parte sobre as localizações, tornando a leitura mais fluente. Na conclusão voc~e poderia dar mais ênfase à importância da Galiléia em Mateus, ou fazer reflexões para o texto na igreja de hoje, se é que ele serve para isso.

    Aguardo novas exegeses de outros texto para acompanhar seu contínuo desenvolvimento, porém, já temos um bom começo. Parabéns Alexandre.

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